Em junho de 2013 o Brasil foi tomado por uma série de manifestações populares de grandes proporções que levou centenas de milhares de pessoas às ruas em várias cidades do país, exigindo melhorias no sistema de vários serviços públicos e questionando principalmente os grandes níveis de corrupção nas esferas de poder.
As manifestações se mostraram um momento único na história do país, em que se pôde não só revisar o conceito geral de passividade do cidadão brasileiro, mas também revelar o despreparo dos agentes de poder – nas esferas públicas e privadas – ao lidarem com questões populares.
A força repressora do estado como resposta do poder constituído, através do excesso de violência da polícia contra manifestantes, se tornou um grande agravante para o questionamento do sistema de representatividade pública no país e para um melhor entendimento do papel que exerce a mídia tradicional dos grandes meios de comunicação na cultura de uma sociedade que tem a televisão (especialmente um canal televisivo) como grande gerador de informação e entretenimento.
Quem frequentou as manifestações tinha a impressão de que muitas realidades narradas pelos telejornais não condiziam com o que acontecia nas ruas, o que desempenhou um papel negativo de desinformação e de revolta entre setores da sociedade, com polarização contra e a favor de tais manifestações.
Então estudantes da Escola Estadual de Teatro Martins Penna, as atrizes Ariane Hime e Fernanda Vizeu decidiram realizar a performance em questão como resposta artística a todos os questionamentos que se colocaram em momento tão complexo da história recente brasileira.
Durante manifesto em apoio aos professores da rede de ensino municipal da cidade do Rio de Janeiro as artistas fizeram ato em que permaneciam sentadas jantando defronte à televisão, parecendo alheias à realidade em sua volta. Mesmo em desdobramento violento com confronto entre a polícia e manifestantes (balas de borracha, armas de fogo e bombas de gás lacrimogêneo), as artistas se muniram com máscaras de gás e se mantiveram em resistência.
O clique do fotógrafo Byron Prujansky, que resignificou a performance lhe atribuindo o título “E as pessoas na sala de jantar”, em referência à música de Os Mutantes, se difundiu rapidamente pelas redes sociais, obtendo grande número de visualizações e gerando interesse inclusive do maior grupo de mídia do país, que fez matéria jornalística da performance através do jornal Extra.
Outros registros pós performance revelaram que quando as duas já tinham fugido das bombas e deixaram os objetos da performance, que virou interferência, para trás – outros manifestantes assumiram o lugar delas e mantiveram vivo o seu discurso.
SEM TÍTULO OU E AS PESSOAS NA SALA DE JANTAR (2013)
Brasil, Rio de Janeiro | Fernanda Vizeu e Ariane Hime
Fernanda Vizeu (Autor da publicação)